Saio para a noite. como que a procurar
todos os caminhos da noite.
sorrio sorrisos obtusos, 
para as putas que me sorriem, 
sorrisos mensagem como que a dizerem:
o mundo «não é só das prostitutas
A cheirar esperma de mar» [1]
É de gente «com a inquietação resignada.»
Gente que dorme nos portais
«embrulhada em cobertores de frio». [1]
Gente precocemente envelhecida,
«com musgo na cara, de tanto chorar desde as fontes» [1]
Gente arrastando solidão nos olhos,
mas que resiste à dor de saber,
que a morte
tem a dimensão exacta do seu tamanho.
Gente, que não sai para a noite,  como eu saio,
porque a noite 
já é o seu lar e o seu dia 
onde as árvores gritam,
e o vento traz novos fantasmas
uivando paraísos de fome na primavera.
Saio para a noite.
desço a avenida grande 
e canto, 
o espanto da noite enfarpelada
desta cidade estóica,
graniticamente  cosmopolitizada 
onde o tempo apodrece,
alheio 
ao olhar dos cadáveres, sem mortalha,
sem deuses 
nem diabos a enfeitarem a morte.
Saio para a noite
cumprindo o meu destino de poeta,
dizer a toda a gente:
« o sol vai nascer».

