Virá o Outono desfolhar 
a copa destas árvores que me abrigam.
Não haverá, decerto, andorinhas 
esvoaçando alegre livremente
enchendo este céu de chilrear.
Os dias, perderão o seu brilho ouro.
As noites serão mais longas.
Tudo parecerá mais melancólico.
As praias ficarão desumanizadas.
mas estará lá sempre o mesmo mar
beijando languidamente as suas areias.
A cidade manterá o seu ritmo frenético.
Haverá as mesmas virgens 
sonhando à frente dos espelhos, 
esperando um qualquer príncipe novelesco.
Haverá homens que se enforcarão. 
Paixões que explodirão.
Amantes sem amante masturbando-se secretamente.
Haverá telejornais pontualmente
enaltecendo  este mundo cão.
Haverá « os sem pão, e os sem sobremesa.»
Depois deste verão morrer…
Haverá sempre mais vida.

