Em 1960, António Ramos Rosa, com a publicação de "Viagem através de uma Nebulosa" deixava entrever uma proposta que detinha uma intenção de dar corpo a tendências e orientações que viriam revolucionar os hábitos de escrita e leitura prevalecentes naquela época.

Paralelamente desenvolvia-se a obra poética de João Rui de Sousa, com Circulação (1960), e de Ernesto de Melo e Castro com os títulos Entre o Som e o Sul (1960) e Queda Livre (1961). Estes autores estabeleceram contactos e receberam influências do concretismo brasileiro, alargando desta forma a experiência obtida anteriormente com o surrealismo de Mário Cesariny

Mas sem qualquer margem de dúvidas, o marco importante desta geração, foi a colectânea "Poesia 61", que incluía textos de Casimiro de Brito, Fiama Hasse Pais Brandão, Gastão Cruz, Luiza Neto Jorge e Maria Teresa Horta.

Em 1964 Herberto Helder publica a obra Electronicolírica.

Estas tentativas poéticas enquadram-se num contexto literário que procurava uma evolução permanente da poesia, e que passava, no dizer António Ramos Rosa, pela «entrega à palavra». Nesta altura a linguagem já era marcada por uma exactidão e um rigor exemplares, bem patentes na obra de poetas que se entregavam ao exercício rigoroso da palavra, tais como: Ruy Cinatti, Sophia de Mello Breyner Andresen, Carlos de Oliveira, João José Cochofel, Eugénio de Andrade, Alberto de Lacerda, e poetas ligados à publicação da revista Árvore, entre 1951 e 1953.

Igualmente importante, neste contexto geracional, é a obra de Fernando Echevarría, que contribuiu para o desenvolvimento de um discurso submetido a uma espécie de desintegração interior. Em linhas completamente opostas às deste último poeta, desenvolveu-se a obra de Pedro Tamen, que no final da década de 50 começa a utilizar uma linguagem inovadora e capaz de alterar o sentido da expressão discursiva.

Na obra de Pedro Tamen está igualmente presente uma ironia que, ao contrário do surrealismo, marca uma ruptura com a interioridade humana. Deste modo, o discurso poético deixa de ser explícito, a expressão liberta-se da significação das palavras e assenta em processos sintácticos que produzem um outro significado, tornando possível a leitura do poema.

Mas não é o significado da palavra que se altera, mas sim a sua função, passando a existir múltiplas possibilidades em relação à disposição das palavras. Estas deixam de ser a representação da realidade e põem em prática a disciplina que as torna aptas a ser a norma dessa representação, o que leva a escrita poética a criar o seu próprio objecto, que se descobre frequentemente ao nível da frase.

Outra característica do discurso poético dessa época baseia-se na procura de uma disponibilidade intrínseca ao valor das palavras, dada pela sua decomposição, tentativa esta que já havia sido explorada pela poesia concreta ou experimental.

Podemos pois considerar a poesia portuguesa, desenvolvida entre as décadas de 60 e 70, como uma poesia de intervenção, uma vez que se observa que a resistência política e social dos escritores da época acompanha todo o processo de institucionalização de um Estado repressivo e conservador.

Esta poesia acompanhou todo o processo de luta, intensificada durante os períodos eleitorais, os conflitos laborais e académicos, durante a guerra colonial e, posteriormente, durante o intenso processo que se seguiu à revolução de Abril de 1974.

Relacionado com este período conturbado da história contemporânea portuguesa alinha-se um grupo de poetas cuja fase de consagração se liga directamente com uma atitude polémica de crítica político-social, grupo este que inclui nomes como Luís Veiga Leitão, Egito Gonçalves, Manuel Alegre, Fernando Assis Pacheco, António Gedeão, José Afonso, Sérgio Godinho, José Carlos Ary dos Santos, Joaquim Pessoa, José Jorge Letria, entre outros.