De meados dos anos 40 até 1961 com despoletar da luta armada, neste período temos as gerações da "Mensagem" e da "Cultura", sendo um dos momentos privilegiados de imposição do nosso processo literário face à ordem cultural colonial.

O período entre 1945 e 1960, é considerado uma época decisiva e considerada quase unanimemente como a da organização literária da nação angolana, em que a poesia adquire uma intencionalidade pedagógica e didáctica: com ela tenta-se recriar África e Angola, os valores ancestrais do homem africano e da sua terra, bem como ensinar esse mesmo homem a descobrir-se como individualidade. Esta poesia põe em prática a reposição da tradição oral, onde as próprias línguas nacionais ocupam um espaço importante. É, numa palavra, a poesia da "angolanidade".

Para tanto contribuiu o aparecimento de movimentos como o MNIA, (Movimento dos Novos Intelectuais de Angola-1948) da Cultura e o da CEI,(Casa Estudantes do Império) além de outros contributos, como o das Edições Imbondeiro (de Sá da Bandeira), e a Revista Mensagem que surge em 1951 sob a responsabilidade do departamento da ANANGOLA.

O Neo-realismo cruza-se com a Negritude que, segundo António Jacinto, apareceu em Luanda só em 1952, altura em que se entrou em contacto com a Negritude de Senghor e Césaire através da antologia de Poesia Negra e Malgache.

Os escritores africanos de expressão portuguesa, da década de cinquenta assentam numa estética do retorno às origens, do reencontro com o passado glorioso, transformado numa utopia da felicidade, referindo-se com orgulho à raça e às culturas tradicionais.

a poesia é a forma que mais convém. Aproveitam-se as conquistas do modernismo, com o verso livre e os temas arrojados, e toma-se o exemplo dos grandes bardos criadores de longos textos, quase excessivos, por vezes a tenderem para o prosaico, como Walt Whitman, Maiakovsky, Álvaro de Campos, Nazim Hikmet ou Pablo Neruda. A Negritude, por seu lado, concede-lhes o sentimento de exaltação da raça negra, nomeadamente na solidariedade com os negros do Novo Mundo e, por outro lado, sublinha o reconhecimento das raízes, que são étnicas, tribais, mergulhando nos milénios. […]

O caminho poético pode assim congraçar as três vertentes de júbilo ideológico: o povo, a classe e a raça. O povo é negro, trabalhador, explorado e oprimido. Numa palavra: colonizado. Fundamentalmente, traça-se o quadro ou alude-se a figuras paradigmáticas de colonizados: contratados, prostitutas, escravos, moleques, ardinas, lavadeiras, estivadores, analfabetos, serviçais, etc. Pertencem à raça negra ou, no máximo, são mulatos, mas raros.

Com os ventos de certa abertura e descompressão da política internacional, a seguir à II Guerra Mundial, na Europa, como em África, animam-se as hostes angolanas empenhadas em libertar-se das malhas estreitas da política colonial e, portanto, de uma cultura alienada do meio africano. É nesse contexto brevemente favorável que surge uma actividade marcada já fortemente por um desejo de emancipação, em sintonia com os estudantes que, na Europa, davam conta de que, aos olhos da cultura ocidental, não passavam todos de «cidadãos portugueses de segunda». […]

Em 1951 inicia-se a publicação da revista Mensagem que vai marcar o início da poesia moderna de Angola. No primeiro número de Mensagem colaboram, entre outros, Mário António, Agostinho Neto, Viriato da Cruz, Alda Lara, António Jacinto e Mário Pinto de Andrade. A publicação da revista, no dizer de Ana Mafalda Leite, "foi o resultado concreto da ambição desta nova geração de intelectuais de Angola de amplificar o movimento cultural iniciado nos anos 40 por Viriato da Cruz."

A temática dos escritores da Mensagem gira à volta de tópicos tais como: a valorização do homem negro africano e da sua cultura a sua capacidade de autodeterminação, a nação africana que se antevê como estado com autoridade e existência próprias. Muita da poesia é uma poesia de protesto anticolonial, sem deixar de ser humanista e social. Agostinho Neto, Viriato Cruz e Mário António concentram muito da sua produção nesta temática.

Em 1953, Mário Pinto de Andrade e Francisco José Tenreiro compilam a primeira Antologia de Poesia Negra de Expressão Portuguesa onde são incluídos três poetas angolanos.

A partir de 1954 no âmbito das actividades culturais levadas a cabo na Casa dos Estudantes do Império (CEI) , Carlos Ervedosa, Fernando Costa Andrade, António Tomás Medeiros e Fernando Mourão, levaram a cabo “a publicação de obras de escritores e de poetas originários das colónias portuguesas como Agostinho Neto, Alda Lara, Corsino Fortes, Ernesto Lara Filho, Manuela Margarido, Pepetela, Gabriel Mariano, Noémia de Sousa, Alda Espírito Santo e outros, obras clássicas de Mário António, Luandino Vieira, José Craveirinha, Alexandre Dáskalos e Ovídio Martins (...),

Em 1956, Mário António publica o volume intitulado Poesia, graças ao qual, o jornal O Brado Africano (1952-53) faz sair o primeiro artigo sobre o político e poeta Agostinho Neto.

O protesto anticolonial toma uma feição muito mais directa e acutilante com a publicação da revista Certeza, em 1957. Esta revista, que se publica até 1961, revelou a existência de novos poetas, entre eles António Cardoso e Costa Andrade. Para além da contestação contra o colonialismo, desenvolve-se progressivamente uma temática que tem a ver com a evocação e a invocação da "mãe-pátria", da "terra grande" de África. Quase todos estes poetas tratam os temas da identidade, da fraternidade, da terra de Angola pátria de todos, negros, brancos e mestiços; de grande importância é também o tópico da alienação (sobretudo a que respeita ao estado de espírito do branco nascido e criado em Angola). Muita da poesia é também de carácter intimista, como é o caso da de Mário António.

Em 1957, e “no momento que se fecharam as portas da Anangola,» surge no panorama literário angolano a revista Cultura, um projecto editorial que, para além de permitir «o desenvolvimento futuro do nacionalismo», e prestar suporte à geração com o mesmo nome, - de que se destacam os jovens António Cardoso, Henrique Abranches, Henrique Guerra e José Luandino Vieira,- vai desencadear uma grande mudança na forma de fazer literatura de e para Angola. A revista Cultura teve, durante a sua existência, duas fases literárias: Cultura I - "mensário de divulgação literária, científica e artística da sociedade cultural de Angola", que apareceu em Angola em 1957, e "Cultura II", que vai de 1957 a 1961, - data em que rebenta a luta armada em Angola - e durante o qual publica 15 números.

Toda esta geração de poetas e escritores, utilizando recursos líricos e dramáticos, ao criar uma poesia de fundo e cariz emocional, prolonga, definitivamente as linhas iniciadas pela Geração da Mensagem, solidificam determinadas posições político-sociais e inicia um ataque cerrado para pôr fim ao tempo da «voz abafada, da escrita da dissimulação e engano»;

Através da poesia, descobre-se Angola, as suas origens, as suas tradições e mitos. A obra principal de Agostinho Neto, “Sagrada Esperança,” é uma amostra valiosa não só da poesia de combate e contestação (sem ser panfletária, no entanto) mas também da poesia lírica e intimista, frequentemente modulada por uma religiosidade profunda.

Referências Biográficas

  • Luís Kandjimbo: Breve História da Ficção narrativa angolana nos últimos 50 anos (http://www.nexus.ao/kandjimbo/breve_historia.htm);
  • Seomara Santos,(UEA-Digital), (http://www.uea-angola.org/intro_antologia_poetica.cfm);
  • Carlos Ervedosa. Roteiro da Literatura Angolana. Luanda, Edição da Sociedade Cultural de Angola, 1974, p.73.
  • A Formação da Literatura Angolana (1851-1950); Mário António Fernandes de Oliveira