Passada a euforia da independência, no final dos anos 80 e início dos 90, as novas gerações de escritores cabo-verdianos, nos seus textos literários, além de constatarem que a fome e a miséria não foram extintas, dão início a um processo de denúncia do vazio cultural no Arquipélago,

Delineia-se um forte desalento em relação às ideologias que animaram a poética da Independência. O não cumprimento das promessas de justiça social, depois da Independência, gera um clima de decepção.

Em 1991, a publicação de Mirabilis: de veias ao sol, antologia organizada por José Luís Hopffer Almada, que reúne os “novíssimos poetas de Cabo Verde”, divulga a produção poética cabo-verdiana pós-25 de Abril, dando origem à geração “mirabílica”, oferecendo-se como resistência poética a esses anos de “mau tempo literário”.

Entre os poetas desta geração surgem Dina Salústio, Vera Duarte e outras que aprofundam essa vertente da poética feminina cabo-verdiana.

Vera inaugura com sua poesia um universo poético assinalado pela “cumplicidade das fêmeas”, no qual a mulher almeja ser sujeito de seu próprio desejo.

Com essa poética de contestação da submissão feminina, o eu-lírico rompe com a ideia do “cais da saudade” (“cais da sôdade”, em crioulo) que sempre aprisionou as mulheres caboverdianas ao espaço circunscrito das ilhas.

Além de Vera Duarte, destacam-se também entre os “mirabílicos”: Manuel Delgado, Canabrava, David Hopffer Almada, Kaliosto Fidalgo, Orlando Rodrigues, Euricles Rodrigues, Alzira Cabral, Alberto Lopes, Ana Júlia Sança, Binga, José Cabral, Luís Tolentino, José Luís Tavares, Paula Martins, Vasco Martins, José Luís Hopffer Almada, entre muitos outros.

Os poetas dessa geração têm consciência do vazio cultural e social existente no Arquipélago, após a Independência e reúnem tendências bastante variadas.

José Luís Hopffer Almada alerta para o perigo dos sonhos fenecendo, apodrecidos. Outros poetas efectuam esse tipo de denúncia, utilizando-se do humor e da ironia para evidenciarem a falência dos antigos ideais libertários.

Segundo Simone Caputo Gomes, as questões consideradas como tradicionalmente ligadas à crioulidade ou cabo-verdianidade – a seca, a chuva, a fome, o trabalho, a pesca da baleia, o mar, a insularidade, a emigração – são retomadas em outro contexto, em conjunto com novas questões como as lutas e as desigualdades sociais vistas num contexto pós-colonial, o desencanto, o desespero, a solidão, a morte, a existência pessoal, o humor, a ironia, a indagação de Deus, visando conjugar aspectos nacionais e universais.