Nome Completo: Maria Manuela Conceição Carvalho Margarido
Género Literário: Poetisa
Nascimento: 11 de setembro de 1925, Ilha do Príncipe, São Tomé e Príncipe
Falecimento: 10 de março de 2007, Lisboa, Portugal

Maria Manuela Conceição Carvalho Margarido foi uma poetisa são-tomense, que cedo abraçou a causa do combate anticolonialista, com o mesmo clamor da revolta reflectindo e denunciando a repressão colonialista portuguesa, assim como a vida pobre dos seus conterrâneos nas roças do café e do cacau.que a partir da década de 1950 se afirmou em África, e da independência do arquipélago.

Na sua poesia a cólera e a revolta são duas constantes que, associadas ao movimento dialéctico da vida que tudo destrói e reconstrói, trazem a esperança: «Na beira do mar, nas águas,/estão acesas a esperança/o movimento/a revolta/do homem social, do homem integral»,

Em 1953, levanta a voz contra o massacre de Batepá, perpetrado pela repressão colonial portuguesa.

Casou em Lisboa e por ali ficou muitos anos, sempre atenta aos anseios dos africanos que aí estudavam. Frequentava assiduamente a Casa dos Estudantes do Império (CEI), em Lisboa, onde participava em actividades culturais e convivia com residentes de todas as colónias e portugueses democratas.

Manuela Margarido aparecia na CEI para conversar, falar de livros, da situação política nacional e internacional e, naturalmente, das suas terras. Eram seus companheiros de então Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Chissano, Fernando Mourão, Narana Cossoró, Rui Romano, Francisco Tenreiro, entre outros.

Manuela Margarido atribuía a Francisco Tenreiro a consciência étnica que imprimia nas suas poesias: «Através dele seguimos de perto o pensamento e a obra de Senghor e de Aimé Césaire que, de certa forma, se tornaram nossos mentores do mesmo modo que foram referências históricas para a África negra. (...) Os meus poemas tornaram-se mais africanos».

Em Alto como o Silêncio (Lisboa, 1957), a sua poesia é a saudade dos sons, cheiros, luz e, também das angústias, dos medos e sonhos da sua ilha. Fala dos homens, dos pássaros, dos cacaueiros, dos coqueiros e do mar, daquilo que a libertava e a oprimia.
Na década de sessenta começaram as perseguições aos nacionalistas africanos e os exílios.

Nos anos 60, com o marido, Alfredo Margarido (4), Edmundo Bettencourt, Cândido da Costa Pinto e Manuel de Castro, fazia parte de uma tertúlia que reunia aos fins de tarde no café Restauração da Rua 1º de Dezembro (Lisboa).

Em 1962 foi presa pela PIDE e levada para Caxias. «Nós queríamos tão somente a autonomia das colónias, inspirados no modelo francês. Ninguém nos ouviu. A minha poesia tornava-se num grito de liberdade. Em Vós que ocupais a nossa terra (1963), denuncio "a cobra preta que passeia fardada", a polícia e os soldados do continente, tema que foi recorrente na minha poesia de contestação. É um poema muito dorido e que reflecte o sentir da geração esclarecida das ilhas nessa época».

O espartilho da censura e da opressão política empurrou-a para o exílio. Foi viver para Paris, onde ficou trinta anos e fez a sua formação académica. Diplomou-se em Ciências Religiosas na École Pratique des Hautes Études ( foi aluna de Roland Barthes). Licenciou-se em Letras (foi aluna de Francastel) e estudou Cinema. Foi secretária-bibliotecária do Instituto de Estudos Portugueses e Brasileiros da Sorbonne, e secretária da Liga Portuguesa do Ensino e da Cultura Popular em Paris.

Durante a década de 60 continuou a escrever sobre temas africanos e publicou Os Poetas e Contistas Africanos (S. Paulo, 1963); Poetas de S. Tomé e Príncipe, (Lisboa, 1963); Nova Soma de poesia do mundo negro "Présence Africaine nº 57" (Paris, 1966). (2)

Depois da Revolução de Abril, iniciou com grande entusiasmo uma nova fase da sua vida, entregando-se à participação na construção da sua pátria recém-nascida, como Embaixadora de São Tomé e Príncipe. «Era a oportunidade de dar a conhecer aquelas ilhas que amo, pequenos pontos no Atlântico Sul para os grandes países da Europa, procurar dar a conhecer a cultura própria das suas gentes. Tenho orgulho em ter sido embaixadora de S. Tomé e Príncipe em dez países (dos quais Inglaterra, Alemanha, França, Holanda, Bélgica, Suécia e Noruega) e oito organizações, entre elas a UNESCO e a FAO».

Da sua vivência como embaixadora, destacou sempre com particular emoção os anos em que ocupou o lugar em Paris, por ter sido a cidade onde, no passado, adquirira a sua maior bagagem cultural e onde tinha deixado importantes relações de amizade.

Em Lisboa, onde viveu, Manuela Margarido empenhou-se na divulgação da cultura do seu país, sendo considerada, a par de Alda Espírito Santo, Caetano da Costa Alegre e Francisco José Tenreiro, um dos principais nomes da poesia de São Tomé e Príncipe.

Entre outras funções, foi membro do Conselho Consultivo da revista Atalaia, do Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa(CICTSUL).

Referências Biográficas

Inocência Mata, Manuela Margarido: uma poetisa lírica entre o cânone e a margem, in: SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 8, n. 15, p. 240-252, 2º sem. 2004. (acessado em 21.11.2016). Blog Antifascistas da resistência (http://antifascistasdaresistencia.blogspot.com/2015/11/perfis-de-resistentes-antifascistas.html acessado em 21.11.2016).